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11 de set. de 2001

Leia um trecho de "Covil do Dragão"

FOGO DO CÉU

I

O Conde Felipe, regente de Danubian, arrasta os pés pelo campo devastado, levantando pequenas nuvens de cinzas ao caminhar. Seus olhos ardem e às vezes ele engasga com a fumaça que está por toda parte, mas mesmo assim continua caminhando de um lado para outro, contabilizando as perdas, porque na verdade não há mais nada a se fazer por enquanto.
O ataque foi devastador; do momento em que a infantaria avançou, até a fuga da criatura pelos céus, tudo se consumou em poucos minutos.
Agora, homens se movem de um lado para o outro, apagando os últimos focos de incêndio, e recolhendo os restos mortais dos soldados.
O conde a todo momento olha para o céu, temendo o que pode surgir dentre as nuvens muito brancas que encobrem parcialmente o sol.

II

Dois dragões foram avistados sobrevoando as terras dos Dowell pouco antes do alvorecer. Duas vacas desapareceram durante a noite. O filho mais novo da família, Andy, avistou as feras cochilando junto ao rio, após se fartarem de carne. Pela primeira vez eram encontrados dragões longe da Muralha de Delos.
Irving, o patriarca, enviou dois serviçais a todo galope ao castelo, para avisar o conde do ocorrido.
Imediatamente um pelotão foi enviado ao local, com a missão de abater os animais. Sessenta homens fortemente armados tentaram se aproximar silenciosamente das feras e pegá-las de surpresa. Infelizmente, não obtiveram sucesso. O barulho de sua chegada acabou por despertá-las. Seus jatos de fogo combinados mataram metade do pelotão de uma só vez. O restante não durou muito tempo.
Um dos dragões, atingido por uma lança no pescoço, tombou ruidosamente, e foi dilacerado a golpes de machado. Mas seus algozes não tiveram tempo de cantar vitória. Em uma única investida, as rajadas de fogo do dragão remanescente transformaram os homens em fogueiras ambulantes. Após concluir o massacre, a fera alçou voo de volta às Muralhas, seu rugido de triunfo ecoando no ar como um trovão distante.


III

O fogo queimou os campos durante boa parte do dia, até se deter às margens de um riacho que cortava a propriedade. Os corpos (ou o que restou deles) foram retirados em carroções, enquanto o conde caminhava incessantemente, com os pensamentos a fazer-lhe latejar as têmporas.
O odor de carne queimada entranhava-se nas narinas como um visitante indesejado, ameaçando ficar ali para sempre.
O conde parou em frente a um crânio carbonizado no chão, ainda dentro do elmo. Suas órbitas vazias e seu sorriso de dentes enegrecidos pareciam zombar dele.
Dentro de sua mente conturbada, Felipe parecia ouvir uma voz fantasmagórica que o alertava:
Tolo! Idiota! Você não viu o poder dos dragões? Acha que pode vencê-los com seu ridículo exército?
Fuja, fuja enquanto é tempo. Porque eles hão de ficar com mais fome, e então será tarde demais!
O nobre virou a cabeça para o lado e vomitou.